Crônicas & Outras Histórias
16/05/2012 - O Popular
Pânico na morte de Pedro Ludovico
“Consultaram as bases (militares em Brasília), e a resposta veio em código: descasquem o abacaxi!”
Goiânia, 16 de agosto de 1979, em plena ditadura militar, morreu Pedro Ludovico Teixeira. O pânico tomou conta das autoridades do governo, que não sabiam o que fazer com o morto: se decretavam luto oficial, se velavam o corpo no Palácio das Esmeraldas, na Assembleia Legislativa, ou se conduziam ao cemitério na viatura do Corpo de Bombeiros.
Consultaram as bases (militares em Brasília), e a resposta veio em código: descasquem o abacaxi! Nesse momento, um pequeno incidente administrativo já havia acontecido no Corpo de Bombeiros. O comandante da Polícia Militar (coronel do Exército) demitiu, por telefone, o comandante da companhia, “por ter criado o maior incidente político de Goiás”, ao colocar à disposição da família do fundador de Goiânia a viatura para conduzir o corpo ao enterro.
O comandante da Polícia Militar estava irado e agitado. Chegou a telefonar três vezes para a residência do comandante do Corpo de Bombeiros. A primeira vez para demiti-lo, a segunda, minutos depois, para dizer-lhe impropérios, e a terceira, logo em seguida, para dizer, agora com a voz mansa e cordata, que “estava indeciso”, “acho... não sei, fico pensando, ele foi um político importante, acho que devemos atender”, e, com isso, readmitiu o demitido. À noite, entretanto, mandou a Polícia Secreta (PS), em trajes civis, ao velório, a fim de bisbilhotar e anotar o nome dos militares que ali comparecessem.
Foi o maior enterro já visto em Goiânia. Uma massa humana acompanhou o corpo de Pedro Ludovico, da Assembleia Legislativa ao Cemitério Santana, no bairro de Campinas. Um carro de som tocava ininterruptamente o tango La Cumparsita, cumprido um desejo do ilustre morto.
O trajeto foi todo feito a pé, passando pelo Setor Aeroporto, numa procissão de tristeza e sentimento. Na caminhada, este cronista ia juntando relembranças do último encontro que tivera com Pedro Ludovico, dois meses antes de sua morte, quando fui convidá-lo para a minha posse na Academia Goiana de Letras.
Por motivos de saúde não compareceu. Mas guardo com carinho e pelo valor histórico a carta que enviou me cumprimentando por minha eleição na Academia Goiana de Letras.
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