terça-feira, 30 de setembro de 2008

A manifestação das relações de poder nos movimentos grevistas
Magali de CASTRO

A greve na escola pública de Minas Gerais é um acontecimento freqüente nos últimos anos, sendo o calendário das escolas entrecortado por greves de professores e funcionários. No trabalho de campo, tivemos oportunidade de analisar os registros sobre greves anteriores e de participar das atividades das escolas durante a greve do 1º semestre de 1992. Pudemos, então, constatar os seguintes tipos de manifestação das relações de poder nos momentos de greve.
A relação de poder mais forte é a dos órgãos governamentais sobre a escola. Estes têm nas mãos o poder de negociar e de aplicar sanções aos grevistas. Deixando que a greve evolua num primeiro momento, fazem, com as lideranças, negociações que não são aceitas e, quando julgam conveniente, utilizam, como instrumento de poder, o corte de ponto e de salários.
A relação dos diretores com seus funcionários é a mais incômoda no período de greve: como elementos de confiança do sistema, obrigam-se a uma atitude prudente, não participando ativamente dos movimentos grevistas e tornam-se os portadores das mensagens ameaçadoras dos órgãos administrativos. Como profissionais do ensino, eleitos por seus colegas e pelos pais, sentem-se no dever de apoiar os colegas que o elegeram e de também lutar pelo seu salário que, apesar de ser um dos maiores da escola, encontra-se na mesma situação de defasagem dos outros profissionais. Este meio de campo complicado exige do diretor um "jogo de cintura", do qual depende a manutenção de um ambiente favorável às relações democráticas após o período de greve.
As relações dos professores entre si, nos períodos de greve, revelam as divergências e os conflitos existentes entre aqueles participantes do Sindicato e os não-participantes. Os primeiros são os que ocupam o espaço nas reuniões para transmitir as definições sobre a greve, as assembléias que serão realizadas, as manifestações etc. Os outros reagem às mensagens de seus colegas participantes de diferentes formas: questionando-os sobre o estágio das negociações e as possibilidades de se conseguir algum êxito, como se eles fossem seus advogados na causa que é também sua; manifestando total indiferença, como se a greve não fosse problema seu, e reagindo contrariamente, dizendo que não vão a nenhuma manifestação, que a greve só atrapalha o calendário e não dá em nada e até mesmo acusando os sindicalizados de petistas desordeiros.
Geralmente os pais, alunos e líderes comunitários têm com os professores uma relação de aliança contra os órgãos governamentais, por considerarem justa a sua reivindicação. Manifestam sua disposição em ajudá-los e sua preocupação em buscar outra forma de luta que não seja a greve que, em sua opinião, além de causar transtornos, não gera mais os efeitos desejados.
A relação do Sindicato com as escolas se estreita nos períodos de movimento grevista, pois geralmente o Sindicato encabeça as greves de professores, organizando o movimento da classe, em assembléias. O SINDIUTE tem papel ativo nas greves, fazendo-se presente nas escolas através dos sindicalizados.
Na época da greve, diferentes atores mobilizam suas forças no sentido de exercerem o poder, seja pelo uso da força, como fazem os órgãos governamentais, seja pela influência social, política ou ideológica utilizada pelos outros atores em relação a seus pares ou a seus oponentes, na luta pela conquista de seus direitos. O poder simbólico, encoberto e conivente do dia-a-dia, cede lugar ao poder manifesto, em relações de luta aparente pela imposição das idéias dos diferentes grupos.

fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-25551998000100002&script=sci_arttext

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