quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Uso do jornal na sala de aula melhora desempenho dos estudantes, diz pesquisa
Vivian Lobato

mailto:vivianlobato@aprendiz.org.br
Gláucia Cavalcante

A utilização do jornal como ferramenta complementar de ensino melhora o hábito da leitura, aumenta a assimilação de conteúdo, amplia o vocabulário, eleva as notas, estimula o senso crítico e motiva os estudantes. A conclusão é de uma pesquisa realizada com alunos e professores de escolas públicas e particulares, participantes do Programa Jornal e Educação, da Associação Nacional de Jornais (ANJ). O estudo qualitativo foi elaborado por meio de um questionário, feito pela consultoria John Snow Brasil e aplicado em sete capitais brasileiras: Brasília, Florianópolis, Belém, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Os entrevistados foram divididos em 14 grupos separados entre alunos e professores. Foram respondidas questões diversificadas sobre hábitos de leitura, percepção de atividades de incentivo à leitura, benefícios do acesso à informação para o exercício da cidadania e os principais obstáculos que existem entre o jornal e o aluno.“A pesquisa veio para comprovar o que os professores e coordenadores do programa presenciavam na rotina de trabalho. Mas, para ganhar força, era necessário um estudo mais profundo, uma pesquisa com resultados efetivos, que mostrasse como o uso bem feito do jornal traz benefícios não só dentro das salas de aula, como também para o desenvolvimento social e pessoal dos alunos”, explica a coordenadora do Programa Jornal e Educação da ANJ, Cristiane Parente.De acordo com Miguel Fontes, diretor da John Snow Brasil, o principal motivo para a não leitura do jornal é o desconhecimento. “Quando você desmitifica o jornal para o jovem, ele gosta, percebe o mundo. Sente-se mais atuante e mais crítico”. No questionário, os alunos também levantaram sugestões para aproximar o jornal do cotidiano jovem, deixando a leitura do periódico mais dinâmica, divertida e atraente. Os principais obstáculos citados pelos entrevistados na hora da leitura do jornal foram: a dificuldade de manusear o impresso, a sujeira nas mãos, a necessidade de textos mais leves com mais cores e figuras, matérias publicadas e elaboradas por jovens para jovens, mais notícias locais que abordem a comunidade e o jornal tratado não só como um veículo transmissor de problemas sociais, como também um meio de comunicação que traga soluções. Os resultados revelam que o uso do jornal durante as aulas contribui para a criação do hábito e gosto pela leitura, refletindo, assim, no aumento das notas dos alunos, principalmente na disciplina de português, e uma postura mais crítica diante do mundo em que vivem. Os professores destacaram que a discussão das notícias, entre outras atividades com jornal, colabora também para melhorar a redação dos alunos e seu nível de argumentação, além de tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes.Além das notas, a diretora do programa lembra que a pesquisa revelou que muitas crianças começaram a orientar os pais na hora que assistem os telejornais, pois agora questionam muito mais a mídia. “A leitura cotidiana do jornal é de extrema importância, pois com ela o jovem percebe qual é o seu papel como cidadão, perante os problemas da sua comunidade, da sua classe, da sua cidade”, explica Cristiane.Formação dos professoresUm problema apontado por Cristiane é que o uso da mídia não é tratado em cursos de formação e capacitação para professores. “Existe uma tendência de mudar essa lógica dentro das salas de aula. Muitas especializações de pedagogia tratam da questão da educação e comunicação, mas a discussão ainda não é feita. É preciso organizar melhor o debate, pois sabemos que muitos professores que estão dentro das salas de aulas não foram capacitados para trabalharem com mídias, não foram formados para isso”.Para a coordenadora do programa, é necessário incluir o jornal na sala de aula e adotar essa ação como uma política pública. “Mas não adianta apenas criar a lei e jogar o jornal dentro das salas de aulas. O professor precisa de um acompanhamento, uma formação continuada e um espaço de troca de experiências com outros docentes”, finaliza. O Programa de Jornal e Educação (PJE/ANJ) foi criado em 1982 e consiste em iniciativas realizadas por associados da ANJ a favor da leitura. O objetivo é formar leitores críticos, reverter os baixos índices de leitura entre os brasileiros, facilitar o acesso às informações do cotidiano visando uma perspectiva de cidadania e participação social. Segundo Cristiane, há 16 anos pelo menos uma iniciativa é lançada por ano. Só de fevereiro a agosto de 2008, quatro jornais lançaram programas de Jornal e Educação. Até o final deste ano a expectativa do PJE/ANJ é que o programa tenha atendido aproximadamente 6,8 mil escolas, 67,5 mil professores e 1,8 milhão de alunos em todas as regiões brasileiras.O Programa também construiu um site no qual os estudantes e professores discutem e trocam experiências de como utilizar o jornal em sala de aula.

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